Para 43% de seus moradores, segundo pesquisa Datafolha, a cidade ficará melhor quando terminar a construção da usina, em 2019. Outros 44% predizem que ela estará pior -um claro empate técnico (a pesquisa de opinião tem margem de erro de cinco pontos percentuais, para mais ou para menos).
Já quando se trata do presente e de ganhos pessoais, Belo Monte conquista a aprovação da maioria dos altamirenses: 51% dos ouvidos acham que a hidrelétrica lhes trouxe mais benefícios que prejuízos. A razão, óbvia, é a geração de empregos, apontada por 66% como principal ponto positivo da obra.
A cidade vive uma espécie de "corrida do ouro" desde o início das obras, há dois anos e meio. O empreendimento de R$ 30 bilhões fez a população altamirense saltar de 100 mil, no Censo de 2010, para mais de 140 mil, na avaliação da prefeitura.
Movimento em uma das principais ruas de Altamira, por onde passam todos os ônibus que levam e trazem diariamente os trabalhadores da obra de Belo Monte |
Como resultado, a infraestrutura urbana, que já era precária, entrou em crise. O trânsito piorou muito, com o inchaço súbito da frota de motocicletas e a falta de fiscalização. Quase um terço dos entrevistados pelo Datafolha dizem dirigi-las sem a necessária habilitação.
Quando a obra terminar e todas as 24 turbinas estiverem funcionando, a capacidade instalada de Belo Monte será de 11.233 megawatts (MW). Mas, como tem reservatórios pequenos, a usina vai gerar uma média de apenas 4.571 MW.
Oleiros trabalham na queima de tijolos na olaria artesanal dos Panelas em Altamira |
Empregos fazem maioria apoiar a usina de Belo Monte
O início da construção da usina de Belo Monte no rio Xingu, em junho de 2011, gerou milhares de empregos -25 mil só nos três canteiros da obra- e movimentou o comércio de Altamira. Não é de estranhar, assim, que 57% de seus moradores se declarem a favor do empreendimento, segundo pesquisa Datafolha.
Menos de um terço dos entrevistados (27%) se posiciona contra a usina hidrelétrica. Apenas 14% se dizem indiferentes a ela.
Com 159,5 mil km² (oito Sergipes, ou meia Itália), Altamira é o maior município do Brasil, mas está longe de ser o melhor. Seu índice de desenvolvimento humano (IDH) é 0,665, bem no meio do ranking nacional (2.776ª posição entre 5.565 cidades).
Fila de trabalhadores do CCBM, Consórcio Construtor de Belo Monte, durante a madrugada, aguardando para receber o pagamento em frente ao RH da empresa em Altamira |
Dos três componentes do IDH, só a longevidade dos habitantes deixa Altamira (0,811) perto da média nacional (0,816). Renda (0,662 ante 0,739) e educação (0,548 ante 0,637) são seus dois calcanhares de aquiles.
Não só. Saneamento básico é outro problema agudo. Até agora, como tantas cidades da Amazônia, Altamira tinha índice zero de coleta e tratamento de esgotos, que correm in natura pelas sarjetas e assim são lançados nos igarapés (riachos).
Moradores circulam por passarelas precárias entre as palafitas próximas ao igarapé Ambé |
Em contrapartida socioambiental por Belo Monte, a empresa Norte Energia assumiu o compromisso -entre dezenas de "condicionantes" estabelecidas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)- de dotar a cidade toda com redes de água e esgotos.
As obras estão atrasadas, mas podem ser vistas por toda a cidade. Também só começaram a ser construídas em agosto as 4.100 casas que a empresa se comprometeu a fazer para a população que precisará ser reassentada.
Só 3% dos entrevistados pelo Datafolha apontam espontaneamente a questão sanitária como ponto negativo da construção de Belo Monte, porém. Os campeões de queixas são a falta de segurança (39%) e os congestionamentos e acidentes de trânsito (20%).
Em apenas duas semanas, a reportagem da Folha testemunhou pelo menos três acidentes com motos e carros. Bebedeiras e brigas são frequentes nos bares da orla do rio, sobretudo nos fins de semana e após o pagamento de operários do Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM), grupo de empreiteiras contratado pela Norte Energia.
Quase um terço (32%) dos moradores ouvidos pelo Datafolha afirmam que tiveram algum parente ou amigo assassinado nos últimos dois anos. Além disso, 17% dos residentes contam ter sofrido roubo, assalto ou agressão nesse mesmo período.
Casas em construção que irão abrigar os moradores deslocados das áreas que ficarão alagadas em Altamira |
AVALIAÇÃO POSITIVA: O Datafolha entrevistou separadamente, em Altamira, 246 trabalhadores da obra da usina e colheu entre eles muitas opiniões favoráveis ao empreendimento.
A maioria dos entrevistados é de forasteiros: 59% são de fora do Pará e só 14% nasceram em Altamira. Dois terços estão na área há menos de um ano, e metade não pretende ficar. Entre os casados, apenas 40% têm a mulher ou marido morando na cidade.
Apesar do isolamento, 64% dos operários de Belo Monte aprovam as condições de trabalho e 57% se dizem muito satisfeitos com ele. Outros 89% consideram ótimo ou bom o conforto nos alojamentos, onde mora a maior parte da força de trabalho da usina em construção.
A avaliação positiva se estende à própria hidrelétrica. O contingente de trabalhadores a favor de sua construção (88%) é significativamente superior ao de altamirenses que a apoiam (57%) -como seria de esperar de quem deve a ela seu emprego atual.
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