sexta-feira, 1 de junho de 2012

APÓS 4 DÉCADAS, TRANSAMAZÔNICA AINDA ESPERA O PROGRESSO

Trecho da Transamazônica na região de Medicilândia 

A rodovia Transamazônica, com 4.162 quilômetros implantados, é um dos projetos-símbolo da ditadura militar, que vigorou de 1964 a 1985. Em 2012, completam-se 40 anos de inaugurado o 1º trecho.

O projeto custou mais de US$ 1 bilhão, dinheiro que bancou a transferência de milhares de brasileiros para uma região remota. Tudo para evitar uma suposta ameaça de invasão estrangeira.

Quatro décadas depois, mais de 2.200 quilômetros de estrada no interior do bioma amazônico ainda são de terra, no inverno chuvoso, muitas das 330 mil pessoas que vivem entre Itaituba e Altamira ficam isoladas.

O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) diz ter quatro contratos para cobrir 444 quilômetros de asfalto. Do resto, nada há. Para o Incra, sem o asfalto a tecnologia não chega e a produção custa a sair -exceto madeira ilegal, único produto com preço para bancar o transporte ruim.

Lixão na beira da Transamazônica, na periferia de Altamira, rodovia tem mais da metade de sua extensão em trechos de terra
Ponto de moto-taxi na beira da Transamazônica, na região de Medicilândia; às vésperas de completar 40 anos, rodovia tem mais da metade de sua extensão em trechos de terra
O pioneiro da Transamazônica Santo Limana, 85, exibe sua plataforma de secagem de cacau, principal atividade econômica da região de Medicilândia , nas imediações da rodovia

"A primeira coisa é asfaltar, porque o resto vem. Em 40 anos, o que a gente tinha de fazer nós fizemos. Só não estamos abandonados porque vivemos com nossas pernas", disse Santo Limana, um dos pioneiros.

A abertura da Transamazônica começou em 1970, com o presidente Emílio Garrastazu Médici. Foi em sua homenagem, aliás, o batismo da pequena Medicilândia, onde está, abandonada, a usina de açúcar e álcool Abraham Lincoln -parte do projeto.
O pioneiro Manoel Carlos de Carvalho, o "Pernambuco", que ajudou a construir a Transamazônica, chora ao lamentar que, depois de ter ajudado a abrir a rodovia, tem somente uma pequena aposentadoria e um barraco velho

LÁGRIMAS: Lembrar a épica aventura de desbravar a floresta nem sempre é fácil. Manuel de Carvalho, o Pernambuco, 76, chegou à região em 1973. Veio trabalhar na construção da estrada. Jamais partiu. "Não saí daqui para canto nenhum."Depois da rodovia, Carvalho ergueu casas para os colonos. Para ele mesmo, nem casa nem lote.Não é fácil lembrar essa história sem que lágrimas deem a dimensão da mágoa. A Transamazônica foi um sonho impossível para muitos, inclusive para Pernambuco.


O pioneiro da Transamazônica Santo Limana, 85, mostra foto da turma,da qual fazia parte, que chegou a Medicilândia há 40 anos

O pioneiro Vonibaldo Von Groll, 74, conta sua história em um bar, na agrovila Jorge Bueno da Silva, na Transamazônica; polêmica rodovia completa 40 anos em agosto


Homens recrutados pelo governo federal se preparavam para protagonizar uma parte da história do país. Esses são alguns dos 40 mil chefes de família que decidiram deixar, no início dos anos 1970, a terra em que nasceram em busca do sonho de ocupar e produzir na região amazônica.

"Isso aqui estava para ser invadido pelos americanos. Se a gente colonizasse, ficaria mais difícil. Eles já tinham o Projeto Jari", lembra o colono Vonibaldo von Groll, 74 anos.O Projeto Jari foi implantado na divisa entre Pará e Amapá pelo bilionário americano Daniel Keith Ludwig. Não há notícia de que qualquer força militar dos EUA tenha passado ali, tampouco o desenvolvimento prometido na ocasião da colonização.
Gado pasta em região desmatada, na região de Medicilândia, nas imediações da Transamazônica; rodovia completa 40 anos em agosto

Pau-de-arara circula em trecho da Transamazônica entre Altamira e Medicilândia; às vésperas de completar 40 anos, rodovia tem mais da metade de sua extensão em trechos de terra

Trecho da Rodovia Transamazônica entre Altamira  e Medicilândia

O pioneiro da Transamazônica Santo Limana, 85, mostra foto da turma, da qual fazia parte, que chegou a Medicilândia há 40 anos

Nenhum comentário:

Postar um comentário