domingo, 17 de novembro de 2013

CRIANÇAS DO XINGU BRINCAM DE CAÇAR ANTAS E OUTROS ANIMAIS NA FLORESTA

Da Folha de São Paulo
Anta caçada é dividida entre as famílias
Os asurinis, em Altamira, são conhecidos pelos bonitos desenhos geométricos pintados nos corpos e em panelas de cerâmica.

Ao lado de um barco, uma anta caçada há pouco era cortada em pedaços. Algumas crianças espiavam os dentões do animal, outras carregavam sua porção do bicho para casa. 

A cena ocorreu na aldeia Koatinemo, do povo asurini do Xingu, que fica a algumas horas de barco da cidade de Altamira,  Na região, vivem diversos grupos indígenas -xicrin, arara, juruna e outros.
Crianças asurini brincam no rio Xingu
Arauari é um dos meninos que estavam por ali, brincando de mergulhar como flecha no rio e de cruzar as corredeiras. O garoto, que não sabe ao certo sua idade, mas calcula ter uns 11 anos, contou que é também um caçador.

Desde pequeno, Arauari acompanha o pai e o irmão em caçadas na floresta. Saber andar na mata, capturar a caça e trazer o animal para casa fazem parte de seu aprendizado. 

A hora de sair para caçar é à tardinha, quando entram na mata e esperam num lugar até anoitecer. "A gente vai aonde está a comida do bicho", disse.
Menino asurini observa dentes de anta
Um dia foi assim: "Ficamos bem quietos. Deu oito horas, e a anta apareceu -'tuc, tuc, tuc'", imita o som da pisada do animal. "Meu irmão deu três tiros." O bicho caiu. "Foi pesado para carregar para a aldeia." 

Também caçam paca, porcão e jabuti. "Um dia peguei três jabutis", disse orgulhoso. Ele já conhece os perigos na mata. "Quando o bicho está com filhote, fica bravo." O jeito é subir rapidinho no açaizeiro para se proteger.
Anta caçada é dividida entre famílias asurini na TI Koatinemo, em Altamira
De volta à aldeia, "quando a caça é grande", é repartida. Nos dias em que estive lá, caçaram uma paca e três antas. E até os visitantes ganharam um bom pedaço. Concordo com Arauari: carne de paca é a melhor. E bem mais gostosa do que as latinhas de atum que eu havia levado na bagagem e me esperavam para o jantar.
Menina asurini com filhote de paca que cria na aldeia
Gente de verdade: Os asurinis são uma população indígena tupi contatada pelo homem branco em 1971, quando começou a construção da rodovia Transamazônica. 

Nessa época, o grupo foi batizado de asurini, que quer dizer "vermelho", devido ao uso do urucum (fruto) para pintura do corpo. Ficou conhecido como asurini do Xingu, pois no Tocantins vivem outros asurinis. Mas o grupo se chama de awaeté, que quer dizer "gente de verdade". 

Os asurinis são conhecidos pelos bonitos desenhos geométricos pintados nos corpos e em panelas de cerâmica.
Menina asurini do Xingu, na TI Koatinemo
Mapa do quintal: Um grupo de 150 asurinis vive na Terra Indígena Koatinemo, na cidade de Altamira (PA), localizada no Médio Xingu. Em Altamira, há mais de 3.700 índios em 12 terras indígenas 

Nos anos 1970, os indígenas da região passaram por transformações provocadas pela abertura da rodovia Transamazônica. Agora, têm de lidar com a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, que pode dificultar a pesca e o transporte no rio Xingu.
Menina mostra panelinha de barro que fez ao lado das mulheres da aldeia asurini
Arauari brinca com barquinho feito de resto de madeira
Meninos asurinis constroem barquinhos em aldeia da Terra Indígena Koatinemo
Asurini mergulha com barquinho feito de resto de madeira no rio Xingu
Meninos asurinis brincam com barquinho no rio Xingu
Arauari brinca com modelos de antas e onças no barro enquanto sua mãe faz peças
da cerâmica tradicional do povo asurini

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