segunda-feira, 21 de outubro de 2013

"CONQUISTANDO A LIBERDADE" LEVA RELATO DE EXPERIÊNCIAS A ALUNOS DE BRASIL NOVO

O Projeto Conquistando a Liberdade, realizado pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), chegou na sexta-feira (18) à Escola Boa Esperança, localizada em Brasil Novo, município a 46 km de Altamira, na Região do Xingu. A escola, que fica na ao longo da estrada vicinal 16, na Rodovia Transamazônica (BR-230), recebeu 20 internos do Centro de Recuperação Regional de Altamira.

O projeto, realizado em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado (TJE), Ministério Público, Defensoria Pública, Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Programa Pro Paz e Polícia Militar, voltou a Brasil Novo, reunindo mais de 60 pessoas, entre pais e alunos.
O interno José Carlos de Oliveira, que cumpre pena há mais de 15 anos, foi um dos participantes da ação “Papo di Rocha”. Formado em Direito, ele exercia a profissão de advogado antes de ser preso, e contou como cometeu um homicídio. "Minha esposa morreu em um acidente de trânsito. No julgamento do acusado, a sentença da Justiça foi o pagamento de quatro cestas básicas. Mas nada justifica o que eu fiz", contou José Carlos, que assassinou a tiros o acusado pelo acidente, dentro do Fórum.

Com dois filhos, ele enfatizou na conversa com os alunos o cuidado para não se tornar um criminoso. “Muitas vezes as pessoas nos vêem como presos, mas não sabem as circunstâncias que nos levaram para a cadeia. Por meio desse projeto, a sociedade pode interagir com o preso e conhecer um pouco da sua história. O nosso objetivo é prevenir e fazer com que o jovem não venha a cair nas mesmas armadilhas da vida. Para mim, o projeto tem um valor simbólico. Sinto que, alertando os jovens, posso resgatar um pouco daquilo que eu não pude na educação dos meus filhos, justamente por estar preso”, ressaltou.
Carlos Bezerra também relatou sua história para os alunos. Antes de ser preso, ele trabalhava com o pai como caminhoneiro, mas acabou se envolvendo com o tráfico, transportando drogas. “Eu tinha uma vida pacata, sem necessidade de me envolver com o crime. Mas a ganância de ter dinheiro fácil e as más companhias me levaram ao tráfico de drogas. Hoje, eu quero mostrar a esses jovens que o que fiz não compensou. Por mais difícil que a vida seja, a liberdade é o bem mais precioso que temos”, afirmou o interno.

Alerta - Os alunos, na faixa etária de 13 a 15 anos, se surpreenderam com os relatos. Markson da Silva, 15 anos, disse que a conversa serviu de alerta e lição de vida. “Sem dúvida, essa experiência serve como alerta para quando pensarmos em fazer algo errado. Esses relatos ficam pra vida toda”, disse o estudante.

Os pais também aprovaram a conversa com os detentos. “Nós estávamos com muito receio, mas agora temos outra ideia do projeto, pois esse trabalho de prevenção ao crime é muito importante para os jovens”, afirmou Luciene Miranda, mãe de um dos alunos e membro do Conselho da Criança e do Adolescente do município.
Além dos relatos dos presos, os internos pintaram a área externa e as salas de aula, capinaram e fizeram reparos na instalação elétrica das salas de aula e da creche. “Muitas escolas da região são carentes em manutenção na parte elétrica, e quando eu posso ajudar me sinto realizado. Quero fazer bonito e me sentir muito útil”, disse o interno João de Lima, que é eletricista e participou do projeto pela primeira vez.

O município já havia recebido o projeto em abril deste ano, na Escola Brasil Novo, reunindo cerca de 1.500 alunos na quadra poliesportiva. Segundo a prefeita de Brasil Novo, Marina Sperotto, a ação trouxe um retorno muito positivo. “Esperamos que o relato dos internos possa servir de lição aos nossos alunos. Com a construção da barragem (Usina de Belo Monte, no Rio Xingu), aumentou muito o fluxo de pessoas, o que gerou um aumento da violência e do tráfico na nossa região. As experiências relatadas pelos detentos servem de reflexão para a vida desses jovens, sem falar no serviço que eles realizam, que vem beneficiar as escolas do município”, afirmou.

Da Agencia Pará

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