Se é indiscutível que o mega empreendimento UHE Belo Monte trará desenvolvimento para a região da Transamazônica e Xingu, também é indiscutível que se todas as compensações não forem cumpridas, alguns segmentos da sociedade local irão sofrer grandes prejuízos por causa da obra. Exemplo disso são os oleiros de Altamira, que terão as áreas onde trabalham alagadas e, até o momento, não possuem perspectiva de que poderão continuar a desenvolver a atividade.
As 430 famílias que dependem da atividade estão com receio de não encontrar novas áreas para retirarem a argila necessária para a fabricação de tijolos. Hoje eles já sofrem com a sazonalidade da atividade, já que no período chuvoso as áreas onde atuam são alagadas e eles conseguem obter renda no máximo sete meses por ano. Estas áreas serão alagadas permanentemente com o início de operação da usina, deixando estas famílias sem matéria-prima para continuar a produzir.
Segundo Lia Lima, Presidente do Sindicato dos Oleiros de Altamira, a cada ano as dificuldades aumentam. Ela está na atividade há 25 anos e teme pelo futuro. A família de seu marido e ex-presidente do Sindicato, Antonio Oliveira, mais conhecido como Virgulino, produz tijolo em Altamira há três gerações e enfrenta muitas dificuldades. No período em que trabalharam em 2010, tiveram que pagar para a proprietária das terras 212 milheiros de tijolos (350,00 cada milheiro) para poder retirar sua matéria-prima. Além disso, uma empresa local requereu junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) autorização para explorar nos locais usados pelos oleiros artesanais.
A maior preocupação diz respeito ao futuro da atividade após o início do funcionamento da usina de Belo Monte. “Sempre fomos a favor da obra de Belo Monte, pois acreditávamos que a atividade seria alavancada junto com o desenvolvimento que chegaria à região, entretanto, o que temos de concreto é uma possibilidade de acomodação em uma área que também irá alagar. Sabemos que existem áreas altas com argila suficiente pra atender a todos, mas o barro ainda precisa ser testado. Há dois anos a Eletronorte recolheu amostra de argila em área próximo ao “pau do presidente” e até o momento não apresentou o resultado desse teste”, afirma Virgulino.
A maioria dos oleiros não possui outro tipo de qualificação e teme ficar sem ter o que fazer. Hoje eles investem na melhoria da atividade, com alternativa sustentáveis para a secagem dos tijolos, queimando produtos como palha de arroz, casca do açaí e do café, além da mistura do estrume do boi.
Para os oleiros artesanais, se as compensações impostas nos Estudos de Impactos Ambientais e no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) deixarem de ser observadas e executadas, valerá então a máxima bíblica de que do pó viemos e para ele retornaremos. “Nós que lutamos tanto para este empreendimento esperamos da Nesa o apoio e a garantia de sobrevivência da nossa profissão e condições de criarmos nossos filhos e netos com dignidade. Estamos precisando de área para a produção de tijolos, construções de fornos e moradia digna para aqueles que moram em áreas alagadas”, finaliza Virgulino.
Com informações de Fort Xingu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário