Novo relatório confirma o descompasso entre o ritmo da obra e o
cumprimento das condicionantes socioambientais
Apenas quatro das 23 condicionantes foram atendidas, de acordo Ibama. Os dados foram publicados no site do órgão federal na última quinta-feira
(25) No documento, o Ibama afirma que nenhuma das condicionantes que dizem
respeito às obras de infraestrutura nas cinco cidades afetadas diretamente pela
obra foi considerada atendida.
Os atrasos para o início das obras de saúde, educação e saneamento básico na região podem refletir, segundo o Ibama, em atraso na concessão para a próxima licença ambiental do empreendimento, que autoriza ou não o enchimento do reservatório da usina.
Os atrasos para o início das obras de saúde, educação e saneamento básico na região podem refletir, segundo o Ibama, em atraso na concessão para a próxima licença ambiental do empreendimento, que autoriza ou não o enchimento do reservatório da usina.
Obras
como o sistema de drenagem de Altamira, que deveriam ter se iniciado em março
do ano passado, ainda não têm nem projeto. A drenagem na sede de Vitória do
Xingu está atrasada em 12 meses aproximadamente, e as obras dos sistemas de
drenagem nas localidades de Belo Monte e Belo Monte do Pontal já têm atrasos
que chegam a 18 meses, segundo o mesmo parecer.
Órgão recomenda penalizações: Outra
autuação já encaminhada refere-se à construção ilegal, pelo Consórcio
Construtor de Belo Monte (CCBM), de um ramal de transmissão que leva energia de
Altamira aos canteiros de obras, sem a devida autorização do Ibama.
O
parecer também aponta falhas nas indenizações de benfeitorias de famílias que
foram desapropriadas das áreas onde hoje estão sendo instalados os canteiros de
obras. As últimas indenizações pagas pelo pé de cacau, principal lavoura da
região, foram subestimadas entre 52% e 70% do valor pago nas primeiras
indenizações.
Nas
próximas semanas o Ibama deve anunciar qual será a penalidade aplicada à Norte
Energia pelo descompasso entre as obras da usina e a implementação das medidas
mitigatórias e compensatórias à região afetada. As sanções administrativas
podem variar desde advertências à empresa até o embargo da obra.
Os
índios afetados por Belo Monte mais uma vez não foram citados no parecer do
Ibama. A Funai também não se pronunciou sobre o cumprimento das condicionantes
indígenas. Mais de dois anos depois de iniciada a instalação da usina ainda não
saíram do papel os programas socioambientais indígenas, relacionados à saúde,
educação e saneamento básico.
As
conseqüências do descumprimento das obrigações da empresa e da ausência de
fiscalização começam a se refletir na piora dos indicadores da saúde indígena
dos povos atingidos por Belo Monte.
Visita técnica aponta irregularidade: O
Instituto Socioambiental teve acesso também ao relatório do Ibama com as
conclusões de visita técnica realizada em Altamira e região, entre os dias 11 e
15 de março deste ano.
No
documento, o órgão relata que a Norte Energia afirmou que ainda este ano
deve-se chegar a 28 mil trabalhadores nos canteiros de obra, 10 mil a mais do
que o número autorizado.Ainda de acordo com o Ibama, a alteração deveria ter
sido formalizada. Isso porque todas as obras de redução de impactos nas cinco
cidades afetadas pela usina foram planejadas levando em conta o inchaço
populacional de 18 mil trabalhadores na região. Qualquer alteração neste número
deveria representar revisão das obras previstas.
Madeira apodrece nos canteiros: O
relatório também aponta irregularidades no corte e destinação da madeira
desmatada para a instalação das obras.Segundo os técnicos do Ibama, há indícios
de que o Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM) estaria comprando madeira
serrada de empresas da região, enquanto as madeiras desmatadas, que deveriam
estar sendo reutilizadas nas obras pelo CCBM, já se encontram em estado de
decomposição por problemas na logística de reaproveitamento.
O
Instituto socioambiental solicitou entrevista com o responsável da Norte
Energia para esclarecer as falhas no atendimento das condicionantes relatadas
pelo Ibama durante as vistorias técnicas na região. Em nota, a empresa disse
que “reafirma que mantém junto aos órgãos competentes as devidas comunicações
sobre suas atividades na área de influência da Usina Hidrelétrica Belo Monte.”
Por: Leticia LeiteFonte: ISA
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