segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

FOLHA DE SÃO PAULO: ÁREA DO PROJETO DE DOROTHY VIRA CENÁRIO DE FAROESTE

“ Associados acusam grupo ligado ao prefeito Francisco de Assis Souza, o Chiquinho do PT que tem como vice, o fazendeiro Délio Fernandes, apontado como interessado na morte de Dorothy Stang”.

Anapu vira cenário de Faroeste
Após seis anos da morte da missionária Dorothy Stang, a cidade de Anapu um dos marcos da violência agrária na Amazônia, e que hoje é administrada pelo prefeito petista Chiquinho do PT virá cenário de FAROESTE.
No assentamento Esperança, em vez de agricultura familiar na floresta preservada o que se ver são divisões internas, ameaças públicas de morte e desmatamento ilegal.
A americana naturalizada brasileira Dorothy Stang foi morta com seis tiros em 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos, no PDS Esperança.
Cinco pessoas foram condenadas como mandantes ou autoras do crime (leia texto nesta página).
No ano passado a tensão voltou ao local. Aumentou a venda de lotes --80% deles já foram negociados, diz a CPT (Comissão Pastoral da Terra)-- e as invasões. Segundo o Incra, 22 famílias estão em áreas de reserva ambiental.
Local da morte de Dorothy
A associação de moradores passou para as mãos de um grupo ligado ao prefeito Francisco de Assis Souza (PT). Ex-pupilo de Dorothy, ele tem como vice o fazendeiro Délio Fernandes, apontado como interessado na morte dela --ele nega.
Muitos trabalhadores rurais que seguiam a missionária começaram a desmatar, acuados pela miséria.
"Não tem de onde tirar dinheiro", disse Welton de Aquino, um dos três moradores que admitiram à Folha terem vendido toras, o que é ilegal. No caso dele, foram 15 toras em troca de R$ 5.000.
"Se a Dorothy estivesse aqui, a gente não estava nessa situação", afirmou a mulher de Welton, Roseni Gomes de Lima, sob uma foto da religiosa colada na parede de seu barraco de tábuas.
O culto a Dorothy continua, mas a confiança nos membros da CPT, da qual a missionária fazia parte, diminuiu. Parte dos moradores disse à Folha que foram pessoas ligadas à comissão que começaram a lucrar com os desmatamentos, dando sinal de que a prática era aceitável.
Antes unido sob Dorothy, o PDS Esperança está hoje rachado: há os que apóiam a associação ligada ao prefeito e os que continuam seguindo os passos da CPT, liderada pelo padre José Amaro.
AUDIÊNCIA: Depois de protestos feitos por ambos os lados neste mês, que levaram ao fechamento de estradas e exigiram a ida de homens da Força Nacional de Segurança para Anapu, o governo federal organizou uma audiência pública na última terça-feira, que a Folha acompanhou.
Na audiência, Josildo Carlos de Freitas, do Sindicato de Trabalhadores Rurais e também ligado ao prefeito, pegou o microfone para dizer ao padre Amaro, em frente à platéia de cerca de mil pessoas, que seria melhor se ele pedisse transferência de cidade, "para seu próprio bem". "Ouvi dizer que você já cheira a defunto", disse.
Amaro e Jane Dwyer, missionária da mesma congregação de Stang, vêem na tentativa de culpar a CPT pelo início do desmatamento uma nuvem de fumaça.
"O que eles [prefeito e Délio Fernandes] querem é ter toda aquela madeira para eles. Já falavam a mesma coisa da Dorothy", disse Dwyer.
Para ela, a eleição do prefeito foi o estopim para a volta da tensão. "Ele manipula o povo", disse.

POR JOÃO CARLOS MAGALHÃES DA FOLHA
ENVIADO ESPECIAL A ANAPU (PA)

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