quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

COMUNIDADE QUE SERÁ INUNDADA CELEBRA “ÚLTIMA MISSA” NA VOLTA GRANDE

Ribeirinhos da região conhecida como Arroz Cru, localizada na Volta Grande do Xingu, realizaram terça-feira, 13 de dezembro, um protesto contra a construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte. Após missa e procissão celebradas anualmente na comunidade Santa Luzia – parte do território da comunidade -, barcos de moradores e do Movimento Xingu Vivo Para Sempre foram até o local onde seria construído o paredão e estenderam uma faixa de quinze metros de comprimento, trancando simbolicamente o rio Xingu.

“Muita gente não veio porque já foi embora, ou porque brigou com a comunidade por causa da barragem. A barragem acabou com a comunidade”, explica uma das moradoras do local. “A missa sempre foi um seguida de festa, sempre foi um dia muito feliz pra gente. Agora a gente se sente com fosse o enterro de alguém”, comenta.
Apesar do clima triste, alguns moradores afirmaram que continuariam resistindo à construção da hidrelétrica. “Mesmo que a gente tenha que sair, vou levar minha plaquinha ['Eu não quero Belo Monte', afixada na entrada das casas de ribeirinhos] pra onde eu for e vou continuar lutando, continuar contra”, garantem. Algumas famílias já foram indenizadas, desapropriadas, ou estão em processo de negociação. Segundo ação da Defensoria Civil Pública, no entanto, as indenizações estão rebaixadas.

A comunidade fica poucos quilômetros acima do paredão da barragem, na área de cheia permanente. Apesar da proximidade com a obra, muitas famílias sequer passaram pelo Cadastro Sócio-econômico, levantamento básico de moradores e terras que determina quantas pessoas e propriedades em um determinado local serão atingidas, e como será calculada a indenização. Segundo moradores, alguns territórios serão ou já estão sendo utilizados como area dos canteiros de obras.
MEMÓRIA: Os barcos de ribeirinhos também passaram pelo local onde foram jogadas as cinzas do jornalista e ativista Glenn Switkes, ex-coordenador da ONG International Rivers no Brasil, falecido em dezembro de 2009. Em parceria com o professor da Unicamp Oswaldo Sevá, Glenn foi autor do livro Tenotã – Mõ, a mais completas radiografia do projeto de Belo Monte. Em 17 anos de atividade no país, foi um dos mais ativos defensores dos rios da Amazônia e aguerridos opositores às hidrelétricas dos rios Madeira e Xingu. “Perdemos um amigo imortal do rio Xingu, mas o espírito continua vivo na gente e nas águas que correm aqui”, comenta a coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Antônia Melo. 
Xingu Vivo

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